Faz uns dias que cá estou eu sem minha família por perto.
Isso me provoca sensações diversas. Tem momentos que acho bom, me sinto livre, e sem tantas cobranças de ordens diversas que me deixavam congestionada. Já em outros me sinto sozinha, com saudade de tudo e de todos.
Essa casa é muito confusa. Tem uma lógica destrutiva e agoísta. Os que aqui estão não se cuidam, não se preservam, não se amam.
E nessas horas que olho pra minha vida, minha casa (seja lá onde ela estiver), e vejo o quão preciosa ela é.
Lá tem minha mãe. A pessoa mais amada e mais enlouquecida que eu conheço. A melhor mãe do mundo, e não porque ela é minha mãe e nem só pra dizer algo clichê, é porquê ela é mesmo.
O espaço fisíco, o espaço psicológico, o espaço afetivo... Todos os espaços de uma casa ela preenche. Ela ocupa e cuida dele.
A casa é limpa, tão limpa que o ar é limpo, as cores são mais vivas e tudo que é vivo se acolhe por ali. Ela tem a capacidade de manter tudo abslutamente em ordem, fazendo tudo só, ou a maior parte. De repente outras mães também consigam isso, mas eu duvido que o façam com o carinho, o amor, e os gritos (em dias de tpm) da minha mãe. Ela não faz por que tem só que ser feito, ela faz porquê ela ama fazer, ama ter uma vida digna pra si e para os seus.
A limpeza e o sabor da minha mãe. Sinto falta do cheiro da comida dela. Da mesa posta, com todo capricho, onde todos se sentam e ficam ali, juntos, vivenciando o que é ser família.
Que saudade da minha família.
Fora esses afazeres domésticos, onde a minha mãe é incrivelmente eficiente, ela é linda, bonita e atraente. É forte e muito valente. Tá certo que ela é um tanto ansiosa e muito emergencial, sem nenhuma noção das palavras ofensivas ditas a qualquer um que se ponha no seu caminho, e doa a quem doer, mas tudo se releva e ela ainda assim é incrivel. E poxa vida, faz uma falta gigante.
A casa vive cheia, todos a querem por perto. Um dia desses uma prima me disse que fez uma seleção particular e que minha mãe tinha sido elegida como a melhor tia, pela vitalidade, animação e atitude. Concordo com a prima.
Por tudo isso é que minha vó profeticamente deu a ela o nome de DIVINA.
Mas pra minha mais doce sorte, junto da minha mãe tem o meu pai, o par perfeito pra ela e virse e verça. Eles se encaixam. Meu pai é um homem que vive os dias de cada vez. Cheio de medos e de amores, de preocupações e de orgulhos.
Provedor em tempo integral. Devemos muito a ele. Vivemos em casa com tudo o que ele pode oferecer, sem nos privar de nada que suas competências fossem capazes de gerar. Ele esteve por perto, do melhor ou do pior jeito, mas sempre esteve ali. Tenho muito orgulho dele. E adoro profundamente ter nascido com a boca bonita dele.
E é porque eles se uniram se amaram carnalmente que eu estou aqui, mas isso não é importante, o importante mesmo são os outros dois que vieram depois de mim. Meus irmãos maravilhosos. Dois!!! Duas pessoas tão diferentes mas tão minhas.
Meu irmão do meio, a criatura que consegue ser a mais doce e a mais amarga do mundo ao mesmo tempo. Parece tanto com minha mãe. Deve ser por isso que eles se chocam vez ou outra. È inteligente, engraçado, criativo, vivo, desafiador, lindo, a cara do... do.... como é mesmo o nome dele?! Ah! Claro, do Rodrigo Santoro!!!!
A pessoa que veio pra esse mundo me preencher, me ocupar, me encantar, me dá seu porto e me deixar tão segura. O admiro muito. Tanto que as vezes esqueço que eu que sou a irmã mais velha e não ele.
E tem o bebê, o irmão caçulinha, que já está até trabalhando, ow meu Deus, que judiação!!! Essa pessoinha é o mais mimado, óbvio, outros quatro antes dele estavam ali pra enchê-lo de vontades, ainda mais sendo lindo como ele é.
Hoje sinto falta dos abraços fortes dele, do carinho gratuito, das musicas horrorosas que ele ouve eu não sinto nenhuma falta, mas pra tê-lo por perto, eu até ouviria de novo. Menino gentil, ótimo lavador de louças pós-almoço, e deliciosamente bom pra jogar conversa fora. Sem dúvida o melhor irmão mais novo que eu podia ter.
Quando estávamos em casa, todos, ou parcialmente, ficávamos nos nossos espaços privados, mas mesmo assim convivíamos com frequência. Invadíamos os quartos uns dos outros com consentimento ou não, só entrávamos e ali permaneciamos breves ou longos momentos, mas sempre eram situações afetuosas, ternas e muito próprias de uma irmandade.
E claro, não ia deixar de falar da Sofia, a cachorrinha caolha mais gostosa do mundo. Tão educada, inteligente, gorducha e carente. Ai! Deliciosa!!! E ela me ama de verdade!!!
Que família!
Deve ser porque da junção da minha mãe e do meu pai nasceram três pessoas que se amam e que amam seus genitores que temos uma família tão intensa, que os outros invejam e desejam pra si. Deve ser por isso, que ofensas, palavrões, agressões físicas não ocorrem de ninguém pra ninguém, a não ser quando minha mãe enlouquece e diz umas grosserias sem sentido, mas a gente ignora na medida do possível.
Sinto muito falta disso tudo e de muito mais. Eles todos não estão longe, estão na cidade vizinha, mas nossos caminhos se desencontraram nesse trecho da vida e por conta disso, a minha rotina familiar me foi privada.
Amo profundamente cada um deles e sei que sou amada com a mesma profundeza por todos. Mas agora tudo o que eu queria era tê-los aqui, de novo na nossa casa, vivendo a vida como se nada nunca fosse mudar, e que as dificuldades seriam todas resolvidas com paciência.
Mesmo estando longe, é neles que me apoio, que me sustento, que me alicerço.
Se Deus existe, tenho que de fato agradecê-lo.